Segundo uma pesquisa feita pelo LinkedIn, rede social voltada para a vida profissional, 35% dos seus entrevistados LGBTQIA+ já sofreram discriminação no seu ambiente de trabalho. Diante desse cenário de intolerância vivenciado no mercado atual, torna-se necessário analisar e trabalhar a representatividade desse grupo no Movimento Empresa Júnior (MEJ). Afinal, seus atuais membros serão os futuros líderes do brasil.
O QUE É LGBTQIA+?
LGBTQIA+ é a sigla que abrange pessoas Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Poli, e mais. O movimento teve um início com uma denominação mais curta, somente LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). O movimento ascendeu em 28 de junho de 1969, nos Estados Unidos, quando nas primeiras horas da manhã gays, lésbicas, travestis e drag queens iniciaram uma rebelião contra os policiais locais, que promoviam revistas humilhantes em bares gays de Nova Iorque. Esse primeiro movimento durou 6 dias e ficou conhecido na história como Rebelião de Stonewall. Este dia foi conhecido como o marco zero do movimento LGBT contemporâneo e comemora-se no dia 28 de junho o Dia Internacional do Orgulho LGBT.
Apesar disso, os registros de opressão à homoafetividade são de longas datas. Os primeiros registros são do ano de 1.200 a.C. Por muito tempo a prática homossexual era considerada legalmente errada. No período da Inquisição, houve diversas leis em que essa prática levava a pena de morte, para o código penal da época. Felizmente, esse grupo de pessoas não aceitou a opressão e, com a fundação da Organização das Nações Unidas (ONU), as minorias sociais ganharam voz no globo e, atualmente, cada vez mais países, pelo menos em lei, garantem a igualdade no tratamento de todos os seres humanos, apesar muitas vezes da impunidade das ainda práticas preconceituosas.
O MEJ E O ACOLHIMENTO
O Movimento Empresa Júnior (MEJ) é uma união de todas as empresas juniores do Brasil e do mundo. O objetivo do Movimento Empresa Júnior é desenvolver estudantes de ensino superior (ou técnico), por meio da vivência empresarial e do aprendizado na prática. No Brasil, o movimento tem por objetivo formar empreendedores comprometidos e capazes de transformar o país. Nesse sentido, é necessário garantir um ambiente democrático, livre e representativo já nas empresas juniores. Afinal, muitos dos membros do Movimento Empresa Júnior serão os futuros líderes do país. Dessa maneira é fundamental que estes continuem a lutar pela inclusão, igualdade e diversidade quando ingressarem oficialmente no mercado de trabalho.
De maneira a garantir um movimento mais justo e ético possível, a Brasil Júnior, que representa as empresas juniores à nível federal estabeleceu um código de ética. Segundo o Código de Ética do MEJ, em seu capítulo II, artigo 4º, é estritamente proibido o tratamento desigual, seja de um membro do MEJ, ou de uma empresa júnior, em função de cor, sexo, religião, origem, classe social, idade ou incapacidade física e mental. Desse modo, percebe-se que o MEJ preza pela representatividade em sua organização, incluindo então a comunidade LGBTQIA+.
REPRESENTATIVIDADE NA PRÁTICA
Apesar de o código de ética estabelecer proibir o tratamento desigual, como a representatividade ocorre de fato no cotidiano das empresas juniores e instâncias do Movimento Empresa Jùnior?
Uma pesquisa realizada em 2017 pela grupo LGBT no MEJ, formado por quatro empresárixs juniores, revela alguns dados sobre essa temática, no Brasil. (É válido ressaltar que a pesquisa foi feita online e que não possui uma distribuição homogênea de cada região do país.) Segundo a pesquisa, em relação a identidade de gênero, de 557 respostas, 523 (94%) do perfil considera-se cis (identificação total com seu sexo biológico), em detrimento de apenas 1%, por exemplo, da autodeclaração de transgênero. Com isso, infere-se que o MEJ, esmagadoramente, é composto por pessoas cis, e possui baixa representatividade de pessoas trans.
Ainda na pesquisa, foi perguntado para os membros LGBT se eles se sentem confortáveis se relacionando com pessoas do mesmo gênero em eventos do MEJ. Em uma escala de 1 a 6, a resposta média foi 3,90. Esses dados mostram que apenas pouco mais da metade, 58%, se sentem à vontade para manifestar livremente sua identidade. Além disso, o problema com a discriminação é ainda mais acentuado para as mulheres lésbicas. Segundo a pesquisa elas possuem a segunda menor representatividade numérica no movimento (atrás somente de pessoas trans). Essas minorias possuem dificuldade de expressar-se dentro do movimento, devido a um machismo estrutural na na sociedade, que interfere diretamente no MEJ.
DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL E COLETIVO
É fato que se uma pessoa não se sente 100% confortável em um ambiente, não vai conseguir agir naturalmente e fazer o seu melhor. Principalmente em um ambiente de trabalho, a entrega e participação de cada indivíduo influi diretamente no resultado coletivo. Na grande maioria dos casos essa discriminação não ocorre diretamente, mas por meio de micro-atitudes discriminatórias. Essas ações, mesmo que indiretas, podem reprimir fortemente a expressão de alguns indivíduos. A discriminação contamina as equipes, é fácil perceber que pessoas reprimidas NUNCA formarão um time de alta performance.
COMO COMBATER PRECONCEITOS E PROMOVER A REPRESENTATIVIDADE?
Uma organização (entre elas empresas juniores) não deve tolerar casos de preconceito. Algumas ações que contribuem para combater preconceitos são:
Observar as atitudes dos membros: algumas atitudes, como exclusão de conversas, descaso em reuniões, conflitos na hora de trabalhar em conjunto e até mesmo pessoas que não são convidadas para encontros rotineiros são indícios de que algo pode estar errado. Caso você identifique essas situações, chame os membros para conversar, a fim de entender e resolver os conflitos.
Ter um posicionamento: sempre mostre seu ponto de opinião e não compactue com ações discriminatórias. Caso você não se sinta confortável para agir diretamente, converse com seu diretor ou outros companheiros de trabalho a respeito do assunto.
Falar sobre o tema: é importante ter um ambiente em que se possa falar abertamente sobre o tema, a fim de explicitar e relembrar constantemente a importância do tema
Pratique a diversidade: valorize a diferença entre os membros da sua equipe e estimule seus companheiros para fazerem o mesmo. Um time com diferentes visões de mundo tem uma maior capacidade de se adaptar a condições adversas e superar desafios. Caso você seja o líder, será que os salários de homens e mulheres que exercem o mesmo cargo é o mesmo? Será que a sua equipe possui pessoas muito semelhantes? Que tal levantar essas questões na hora de trazer novos colaboradores?
DEPOIMENTOS
Nessa mesma pesquisa, foram colhidos alguns relatos anônimos, alguns positivos, outros nem tanto, a respeito de como a comunidade LGBTQIA+ se sente nos ambientes do movimento empresa júnior. Alguns deles estão a seguir:
“ Na minha entrevista para entrada na Empresa Júnior, tive que contar uma das experiências mais desafiadoras da minha vida. Decidi falar sobre quando conversei com minha família sobre sexualidade. A naturalidade com que foi tratada a história por parte dos membros entrevistadores foi marcante, me senti muito confortável naquele momento”
“Foi minha empresa júnior que me ajudou a ter coragem para contar aos meus pais que eu sou gay. A Parthenon é minha família aqui no Paraná, e me sinto totalmente acolhido com eles”
“Eu entrei no MEJ no mesmo período em que me aceitava como gay e pude trabalhar em ambientes que aceitavam todas as minhas características. Minha empresa júnior sempre foi maravilhosa e depois que comecei a crescer dentro da Federação, vi que outras empresas juniores tinham realidades bem diferentes da minha, principalmente por conta do machismo. Graças a juniores, pude conhecer o MEJ nacional e encontrar dezenas de pessoas que são como eu e ganhei mais força para lutar pela causa no meu estado, trazendo momentos de conscientização e debate”
“Eu tenho que trabalhar o dobro de algumas pessoas hétero para ter o mesmo reconhecimento por algumas pessoas, por acharem que a minha sexualidade possa atrapalhar de alguma maneira minha gestão como diretor”
“Membros homens da minha empresa júnior, quando descobrem que sou uma mulher bissexual começam a fantasiar sobre menage a trois. Percebo olhares diferentes e uma certa cautela a meu respeito, principalmente de membros mais novos e com pouca vivência de diversidade (o próprio MEJ como um todo não é representativo no que concerne à diversidade e políticas de inclusão social”